O café, uma das bebidas mais consumidas em todo o mundo, atualmente enfrenta desafios sem precedentes que podem impactar sua disponibilidade nas prateleiras e, consequentemente, o bolso dos consumidores. Com uma combinação de fatores climáticos adversos, dificuldades econômicas e tensões geopolíticas, a produção do grão está em declínio, e os preços estão em alta. Nesse artigo, vamos explorar as razões por trás do agravamento dessa situação e discutir o que os consumidores podem esperar nos próximos meses.
Café pode sumir das prateleiras; veja o motivo e prepare o bolso
Nos últimos anos, a produção de café no Brasil, Vietnã e Indonésia — os três maiores países produtores do mundo — experimentou uma severa pressão. O Brasil, por exemplo, passou por um período de secas intensas e calor extremo, o que afetou diretamente a produção de café. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê que a safra de 2025 será 4,4% menor em comparação com o ano anterior, atingindo 51,8 milhões de sacas. Essa redução é significativa, considerando que o Brasil é responsável por cerca de 30% da oferta global de café.
Além do Brasil, outros grandes produtores, como Vietnã e Indonésia, também enfrentam dificuldades. O Vietnã, por exemplo, sofreu uma queda de 20% na produção da safra 2023/24 devido à falta de chuvas. O cenário se agrava quando se observa que, mesmo com a alta nos preços, as exportações têm sofrido uma retração significativa. Por sua vez, a Indonésia registrou uma redução de 16,5% na produção e 23% nas exportações, devido a chuvas excessivas que danificaram as plantações.
Esses problemas na produção têm efeitos diretos e imediatos no mercado global de café. Com a diminuição da oferta, os preços estão subindo vertiginosamente. Em países como os Estados Unidos e na União Europeia, a inflação do café se tornou uma preocupação real. Dados de janeiro de 2025 mostram que o preço do grão aumentou em média 20,25% no Brasil e cerca de 6,6% nos Estados Unidos. Esse aumento impacta tanto o consumidor comum, que vê o valor do café nas prateleiras subir, como também os donos de cafeterias, que precisam cobrar mais pelo tradicional cafezinho.
A escassez de café não se deve apenas a fatores climáticos, mas também a questões geopolíticas que afetam os transportes e a comercialização do produto. Em um mercado já tensionado, a logística tem sido um gargalo significativo, com atrasos e dificuldades que elevam ainda mais os custos. Os consumidores já sentem no bolso os efeitos desses aumentos, e a expectativa é que essa cobrança em forma de reajustes nas prateleiras perpasse o setor nos próximos meses.
Inflação do café atinge supermercados e cafeterias
Ao longo dos últimos meses, a inflação do café se tornou tão evidente que o consumidor médio começou a perceber que pagar por um quilo do café moído está se tornando cada vez mais caro. Informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o preço do quilo do café moído dobrou desde 2020, acumulando uma alta de 50,3% nos últimos 12 meses. Essa variação é alarmante e leva os consumidores a repensarem seus hábitos de consumo.
As cafeterias também não escapam dessa realidade. O gosto popular por um bom café, que é tradição em muitos lares brasileiros, tornou-se um pouco mais caro. O preço médio de um cafezinho aumentou 10,5% no último ano, o que está diretamente relacionado ao aumento dos custos de produção. Visto que a matéria-prima subiu em mais de 220% de 2021 a 2024, muitos estabelecimentos sentiram a necessidade de repassar esses custos para os clientes, tornando a experiência de saborear um café fora de casa significativamente mais cara.
O impacto dessa inflação não se restringe ao Brasil. Em outros países, como os EUA e na União Europeia, a pressão sobre os preços do café também se faz sentir. No caso dos Estados Unidos, a bebida se tornou 6,6% mais cara, enquanto na Europa, o aumento foi de 3,75%. Os consumidores internacionais estão, assim como os brasileiros, lidando com a realidade de um produto que está cada vez mais caro e, por consequência, menos acessível.
Nesse cenário, a questão que fica é: como os consumidores devem se preparar para essa nova realidade? A resposta reside em uma mudança gradual de hábitos e uma possível adaptação ao que pode ser considerado “novos normais”. Ao optarem por rituais de consumo mais acessíveis ou mesmo na escolha de marcas que oferecem uma melhor relação custo-benefício, os compradores podem encontrar formas de aliviar os impactos dessa alta nos preços.
Mercado internacional pressiona demanda e reduz estoques internos
Um dos fenômenos mais importantes a serem observados neste contexto é como a pressão do mercado internacional tem resultado na redução dos estoques internos de café. Com a valorização do grão fora do Brasil, grande parte da produção tem sido direcionada para exportação, diminuindo a oferta disponível para o consumo nacional. Segundo a consultoria Safras & Mercado, cerca de 93% da safra de 2024/25 já foi comercializada, restando apenas 7% do grão disponível para venda no Brasil. Essa situação agravará ainda mais a dificuldade dos consumidores em conseguir comprar café, a menos que os preços sejam ajustados para baixo — o que raramente acontece em períodos de escassez.
Os produtores brasileiros estão sendo mais cautelosos ao vender sua safra, refletindo a instabilidade climática e as oscilações de preços no mercado. Apenas 13% da safra de 2025/26 foi vendida até o momento, uma queda considerável em comparação com a média dos últimos cinco anos, que era de 22%. Essa precaução pode ter como consequência a escalada contínua nos preços e a preocupação com a eventual escassez do produto nas prateleiras.
Consequentemente, essa situação levanta a seguinte questão: o que podemos esperar em termos de disponibilidade de café num futuro próximo? A resposta não é otimista. Os consumidores, portanto, devem se preparar para mais ajustes nos preços e uma diminuição na variedade de produtos disponíveis.
Fraudes no café aumentam em meio à alta dos preços
Uma das consequências mais alarmantes da alta nos preços do café é o aumento das fraudes no setor. Com a demanda a superando a oferta e os preços subindo, os produtores e comerciantes têm sido tentados a usar métodos ilegais para aumentar o lucro. Infelizmente, isso resultou no surgimento de produtos de baixa qualidade, com o chamado “café fake” se tornando mais comum em prateleiras de supermercados.
A Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste) alertou sobre a prática de misturar cascas, folhas e até grãos defeituosos para reduzir custos. Além disso, alguns produtos chegaram a ter seus grãos substituídos por ingredientes como milho, cevada e açaí, práticas que são não apenas antiéticas, mas também ilegais no Brasil. O Ministério da Agricultura começou a intensificar a fiscalização e a realizar apreensões em fábricas em diversas regiões do país. Embora essa ação represente um esforço para conter o problema, é fundamental que os consumidores fiquem atentos à procedência do café que comprarem.
Perspectivas para o setor e tendências para os próximos meses
O setor de café está atravessando um período prolongado de incerteza. As previsões indicam que os preços continuarão elevados pelos próximos meses, à medida que a produção enfrenta desafios climáticos e geopolíticos. A expectativa é que novos reajustes aconteçam antes da chegada da safra de 2026.
Enquanto isso, o consumo interno permanece forte. O Brasil, como o segundo maior consumidor de café do mundo, experimentou um aumento de 1,1% no consumo entre 2023 e 2024, totalizando 21,9 milhões de sacas. Essa demanda também é impulsionada pelo hábito cultural brasileiro de consumir café diariamente, garantindo que o consumo interno se mantenha relevante, mesmo em tempos difíceis.
No âmbito global, a Organização Internacional do Café (OIC) prevê que as pressões sobre os preços se mantenham, impulsionadas pela redução da oferta e pelo aumento da demanda. As condições climáticas nos países produtores continuarão a desempenhar um papel crucial na determinação do futuro do mercado, assim como as movimentações comerciais no exterior.
Com a produção limitada e os custos elevados, os consumidores devem se preparar para um café cada vez mais caro e, possivelmente, com menor variedade disponível nas prateleiras. A situação exige que tanto os vendedores quanto os consumidores adotem uma abordagem pragmática em relação ao custo e à qualidade do produto.
Perguntas frequentes
Por que o preço do café está aumentando?
O preço do café está aumentando devido à redução da oferta causada por condições climáticas adversas e à alta demanda. Fatores geopolíticos também estão contribuindo para o aumento dos custos.
Qual é a previsão para a produção de café nos próximos anos?
As previsões indicam que a produção de café pode continuar a ser impactada negativamente, principalmente por causas climáticas, o que pode resultar em preços mais altos e menor disponibilidade no mercado.
O que são “café fake”?
“Café fake” refere-se a produtos de baixa qualidade que contêm mistura de cascas, folhas ou grãos defeituosos. Essa prática é frequentemente utilizada para reduzir custos de produção, mas é ilegal.
Como posso garantir a qualidade do café que estou comprando?
Para garantir a qualidade do café, é aconselhável comprar de marcas conhecidas e confiáveis e verificar a procedência do produto. Certificações de qualidade podem ser uma boa indicação.
Os preços do café devem subir ainda mais?
Sim, é esperado que os preços do café continuem a subir nos próximos meses, pressionados por fatores de oferta e demanda, além de custos de produção elevados.
Qual é a melhor alternativa para o café caso ele sumir das prateleiras?
Caso o café se torne escasso, considerar outras opções como chá ou infusões de ervas pode ser uma alternativa, além de explorar marcas menos conhecidas que podem oferecer bons produtos a preços mais acessíveis.
Diante desse cenário, a ingestão de café pode se tornar um luxo para muitos, e os consumidores precisarão estar atentos às mudanças e variações desses custos ao considerar suas compras diárias. É fundamental que, como cidadãos e consumidores, estejamos cientes das tendências do mercado e à disposição para nos adaptar a essa nova realidade do café que, possivelmente, pode sumir das prateleiras; veja o motivo e prepare o bolso.